A gravidez na adolescência, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), é aquela que ocorre antes dos 20 anos de idade.

No Brasil, estima-se que uma em cada cinco mulheres tenham o primeiro filho antes dos 20 anos, estimativa que se manteve constante na última década.

Talvez isso seja consequência dessa verdadeira “onda jovem” que vivemos, como comprovam os dados demográficos que registram um grande aumento na população de adolescentes e jovens (dos 15 aos 24 anos) desde 1995.

Segundo esses dados, apesar de ter se reduzido o número de gestações na adolescência, isso ocorreu na faixa dos 15 aos 19 anos, pois dos 10 aos 14 anos esse número manteve-se inalterado.

A escolaridade também tem influência nos índices de gravidez na adolescência, pois os dados demonstram que as jovens que engravidam mais cedo são as que têm menor tempo de frequência escolar.

Outro ponto importante é o comparecimento ou a procura pelo pré-natal. Quanto mais jovem, mais tardia será essa procura, o que resulta num acompanhamento insuficiente da gestação.

E sabemos que quanto melhor a qualidade do pré-natal, melhor será o seu resultado, com menor taxa de mortalidade da mãe e do bebê.

Além disso, quando analisamos os dados que se referem à paternidade, observamos que tem aumentado o número de jovens grávidas dos 15 aos 19 anos nas quais não é referido o companheiro ou marido. E nas gestantes dos 10 aos 14 anos essa ausência é total!

É importante também ressaltar que na maioria das vezes, nessa faixa etária, essas gestações podem ter sido desejadas, mesmo que de forma inconsciente (tanto é que ocorreram), mas na sua maioria não foram planejadas.

As mudanças na adolescência

Nessa fase única da vida, que é a adolescência, ocorrem mudanças corporais, emocionais, psicológicas, mentais, cerebrais, hormonais e relacionais, fazendo com que os hábitos adquiridos na infância sofram modificações e adaptações. Paralelamente a isso ocorrem dúvidas, incertezas, buscas, transgressões, confrontos, impulsos, todos os comportamentos próprios do desenvolvimento adolescente.

E a sexualidade, que nos acompanha desde a nossa concepção até o fim da vida, “explode” na adolescência, e toma um lugar especial nas nossas vivências, fazendo parte do nosso quotidiano e sendo determinante para a nossa identidade.

A precocidade do desenvolvimento sexual nos dias atuais é um fenômeno mundial, não só individual.

A idade média em que ocorre a menarca (a primeira menstruação) vem diminuindo quatro meses a cada década. Para se ter uma ideia, as meninas tinham sua menarca por volta dos 15 anos no início do século passado. Hoje, se uma menina tem sua menarca aos 9 anos, com o aparecimento dos pelos pubianos ou do broto mamário por volta dos 7anos, está tudo certo.

Além disso, os meios de comunicação em geral vêm erotizando tudo. E esse apelo erótico é visto também nas relações sociais.

A supervalorização do jovem

E vivemos também a supervalorização do jovem! Todos querem ser, parecer, se vestir, e se comportar como o jovem!

Aos 3 meses, Alan foi ao consultório do seu pediatra de bermudão jeans, com cinto, camisa polo, sapatênis, boné, e, pasmem, óculos escuros. Entrou no consultório no colo do avô, que vestia os mesmos trajes, porém sem boné. E Sofia, de dois meses foi de sapatilha dourada, pretinho básico com detalhes de oncinha, combinando com a bolsa e a tiara, também de oncinha.

Umas gracinhas, mas na realidade estes comportamentos demonstram o “endeusamento” da juventude, fruto da nossa cultura moderna. Nem o bebê pode se apresentar como tal, nem os adultos, quando tudo o que não pode acontecer com esses últimos é ficar velho.

Envelhecer é proibido. E aí todo tipo de “correção” (que estão se iniciando cada vez mais cedo) é permitida em nome dessa ordem geral, de se perpetuar jovem!

O que fazer então? Talvez seja preciso um olhar crítico em relação a algumas questões:

- Por que as meninas estão engravidando cada vez mais cedo?

- Essa gravidez é de fato indesejada?

- Em que circunstância ocorreu?

- Que tipo de motivação a ensejou?

- Em que medida a sociedade contribuiu para a sua produção?

- Por que os jovens não respondem às ações preventivas?

Todas estas perguntas sem respostas, mas que carecem de reflexão!

Oportunidades sociais perdidas

O que será que as adolescentes estão nos dizendo através de suas gestações? Talvez devêssemos ouvir o que elas estão querendo nos dizer através disto? Não seria uma forma de denúncia em relação às oportunidades sociais perdidas?

As expectativas sociais dizem às meninas: sejam mães! E os discursos de prevenção advertem: esperem! Nesse embate, as meninas não ficam passivas. Não aceitam o seu destino. Ao contrário, o criam!

Paiva faz a seguinte reflexão: “a gravidez dessas meninas pode ser vista como substituta de oportunidades falidas: nesse caso o sentido primeiro de um filho talvez seja reparar a falta de cidadania; esse filho vai ser tudo que ela não foi; ter tudo que ela não teve; fazer tudo que ela não fez; representa enfim a possibilidade de um futuro melhor”.

O novo papel da mulher na sociedade

E para finalizar, façamos uma breve reflexão sobre a gravidez das nossas avós: todas adolescentes, dentro do sacramento do matrimônio. Naquela época, casar cedo, ser mãe e dona de casa era a grande finalidade da vida da mulher!

Hoje essa perspectiva da vida da mulher mudou. Elas têm que ser,ter e fazer muito mais coisas antes de resolverem ter um parceiro, ou serem mães. As meninas devem estudar, se formar, ficarem independentes financeiramente, comprarem um carro e um imóvel antes de um relacionamento e/ou de ter um filho! A sociedade exige isso, e suas famílias também.E aí cabe uma nova reflexão: alguém fez isso nessa ordem?

É preciso entender o que acontece na adolescência. Os pais devem desde cedo ter um diálogo franco e aberto com seus filhos, onde sexualidade não seja um tabu, transmitir confiança e responsabilidade a eles, estar sempre em contato com suas escolas e conhecer seus amigos e colegas, saber o que fazem fora de casa e principalmente dentro de casa na companhia de seus computadores, iPhones, laptops, tablets, etc., e, se mesmo assim nada disso impedir uma gravidez, acompanhar e apoiar essa menina nessa fase da vida que vai ser duplamente difícil: afinal, ela estava aprendendo a ser filha, e agora já vai ter o grande desafio de aprender a ser mãe!

 

Fonte: Departamento Científico de Adolescência da SBP