Antigamente a Adolescência era terra de ninguém!

Embora afirmativas de grandes filósofos da Antiguidade nos demonstrem como o comportamento dos jovens, desde aquela época, era semelhante à atualidade:

"Não vejo esperança para o futuro de nosso povo se ele depender da frívola mocidade de hoje, pois todos os jovens são indizivelmente frívolos... Quando eu era menino, ensinavam-nos a ser discretos e a respeitar os mais velhos, mas os moços de hoje são excessivamente sabidos e não toleram restrições.” HESÍODO, poeta grego, século VIII a.C.

Ou:

“... os nossos jovens parecem amar o luxo. Têm maus modos e desdenham a autoridade. Desrespeitam adultos e gastam seu tempo vadiando por aí, tagarelando uns com os outros. Estão sempre prontos a contradizer seus pais, monopolizam a atenção em conversas, comem insaciavelmente e tiranizam seus mestres...” SÓCRATES, 469-399 a.C.

Poucas opções para o jovem

Até o início do século passado a criança era considerada um adulto em miniatura e a adolescência simplesmente nem era vista.

O casamento acontecia bem cedo, para poder reprimir a sexualidade, que só podia ser exercida após o matrimônio.

As meninas, após o casamento, exerciam a maternidade e o trabalho doméstico. Antes de casarem podiam frequentar algum internato, onde aprendiam a ser boas donas de casa. Também podiam escolher ser bandeirantes. Ou ainda, podiam ir para o convento!

Os meninos exerciam o ofício dos pais. Ou, antes disso, podiam ser escoteiros. Ah, também podiam servir ao exército ou entrar num seminário!

Nos anos 50, surge a “Juventude Transviada”: as famílias tinham um bando de filhos que pareciam ter uma necessidade enorme de prazer: álcool, motos, brigas. Era como se a vida precisasse ser vivida no limite, por um fio...

Nos anos 60, a “Era Hippie”: o movimento da contracultura, da contestação, quando já havia uma preocupação com a questão ambiental, explodiu a emancipação sexual, já havia a prática do nudismo, entre outras transformações.

A identificação com as “tribos”

Na atualidade, diferente do que aconteceu nos anos 50 e 60, surgiram inúmeras tribos: os emos, jovens que se denominam sentimentais, emotivos; os góticos, que são melancólicos e gostam de vampiros; os punks, que se denominam anarquistas, acreditam na utopia de um país sem governo, onde a sociedade cria as regras e não acreditam em Deus; os skinheads, que são seguidores da cultura nazista e buscam uma sociedade “pura”, uma raça ariana onde não haja misturas de cor, credo, conceitos nem nada.

Em resumo, as condutas “NORMAIS” na adolescência são tão diferentes e variáveis que nos autorizam a empregar o termo “Síndrome” quando definimos a Adolescência Normal.

E dar limites? É função materna e paterna! É ensinar que temos direitos, mas também temos deveres. É preparar os filhos para exercerem sua cidadania. E é bom lembrar que, na responsabilidade de dar limites, MATERNIDADE é igual à PATERNIDADE: se complementam. Têm igual importância. A mensagem passada pelos pais aos seus filhos deve ser sempre a mesma. Discordâncias podem até existir, mas devem ser discutidas só entre quatro paredes. Nunca na frente do filho. Além disso, limites devem e têm que ser dados, porém sem sofrimento para pais ou filhos. E devem ter início desde a infância, chegando até a adolescência.

E filhos vão aprendendo muito mais com os nossos atos do que com as nossas palavras. 

Vivemos hoje uma verdadeira crise de autoridade, com pais às vezes tão flexíveis, que se percebe uma absoluta falta desses limites.

Além disso, estamos na era do descartável, do substituível, do reciclável: do copo ao ventilador, dos utensílios às relações...

A idade do “tudo podemos”

O professor Eduardo Kalina compara limites com o elástico. E é uma descrição perfeita, pois o elástico tem limites firmes, embora não sejam rígidos.

Na adolescência pensamos não ter limites: podemos tudo, sabemos tudo, descobrimos tudo. O mundo está em nossas mãos.

Mas, será que temos mesmo LIMITES? Enquanto seres humanos, será que temos? De onde viemos? Da ameba? Do macaco? Do Paraíso? “Pois tu és pó e ao pó retornarás” (Gênesis 3,19)

Ou viemos da NUVEM?

Qual será o limite do ser humano? Ou será que perdemos os limites? A perspectiva do futuro? Do vir a ser...

Em uma coisa não temos limites: no conhecimento! Nossa capacidade de aprender é ilimitada.

SONHOS também não! Sonhos não têm limites. E sonhos são o forte do SER adolescente.

Primeiro SONHAM com um corpo perfeito, sem limites de perfeição! Como se o corpo fosse o seu bem supremo! Desenham o corpo nas academias ou através de cirurgias plásticas. Transformam o corpo em verdadeiros outdoors, através das tatuagens vestem uma segunda pele. Modificam os cabelos: pintam, alisam, encrespam.

Enchem-se de piercings: furam o corpo todo. Como se fossem parafusos, para segurar uma imagem corporal perdida, ou ainda não adquirida.

Transformações exercidas também na forma de falar, de se comunicar, de viver seus processos simbólicos.

E sonham em realizar coisas: muitas! E todas ao mesmo tempo. E rápido!

E sonham com a Liberdade. Sem saber que Liberdade é justamente reconhecer seus limites!

A difícil função de dar limites

A falta de limites em casa, com a diluição da autoridade paterna/materna, também é sentida na ESCOLA, que tem se tornado igualmente muito flexível. Se em casa os pais não conseguem dar conta de um, dois ou três filhos, imagine UM professor numa sala com cinquenta alunos.

E a SOCIEDADE vive igualmente essa transição. Uma sociedade complacente, com um fenômeno sociopolítico onde “valores” são frágeis, superficiais. Onde ética, honra, honestidade, lealdade, compromisso, parece que foram esquecidos.

Temos a impressão de que estamos sem LEIS. Apesar de termos muitas! Todas para serem dribladas?

E vivemos uma era onde as fronteiras foram extintas. A Internet hoje nos leva aos mais longínquos, mais inusitados e mais inacessíveis lugares num segundo, num toque, num clique.

A comunicação é verdadeiramente instantânea, na hora que o fato está acontecendo do outro lado da rua, do país, do planeta, da galáxia.

Tudo à mão... O mundo sendo construído, compartilhado, dividido, exposto, à milhares de MÃOS!!! Num imediatismo sem precedentes.

Hoje, um objeto que cabe na palma da mão, tornou-se INDISPENSÁVEL para que esse limite seja instantaneamente quebrado. Na comunicação, na exposição, no conhecimento.

Em que computador instalaram o Facebook? Na China?

E o computador onde instalaram o Twitter? No Canadá?

E o do Google? Na França?

Não importa! Estão todos lá na rede! Ou na NUVEM.

Um adolescente brasileiro de Campina Grande, na Paraíba, se comunica com um japonês de Nagasaki...

E outro adolescente turco de Istambul se comunica com um americano de Nova York...

O mundo inteiro numa comunicação virtual intensa, imediata, ao vivo.

As vivências constroem a nossa estrada

Quem se lembra de como era escrever e receber cartas? Ou da máquina de escrever? Ou do vinil? Ou do fax? Ou do telefone preto? Todos, objetos que não voltam mais.

E hoje CDs, DVDs, câmeras digitais, telefones celulares, controle remoto, PCs de mesa com teclado, mouse e disco rígido, laptops, tablets, iPods, iPhones, etc., daqui a muito pouco tempo serão também só uma vaga lembrança.

Todos terão, sem dúvida, seu valor histórico, como peças de uma trilha que nos ajudaram a construir nosso caminho até aqui. TUDO estará lá, na nuvem!

Mas a nossa velha NUVEM lá no céu vai continuar a mesma! Povoando, sem limites os pensamentos, os devaneios e os sonhos dos adolescentes de ontem, hoje e amanhã.

Vivamos então essa era de transição. Está pior? Está melhor? Não importa! Essa resposta, a história vai nos contar. E nós nem estaremos aqui para vê-la, senti-la ou ouvi-la. Mas faremos parte dessa conversa!

Pois estaremos bem próximos a essa nuvem...

 

Fonte: Departamento Científico de Adolescência da SBP