As modificações da sociedade têm levado os pais a gastar cada vez menos tempo útil com seus filhos. Em algumas situações este contato é de menos de meia hora por dia.

Não há tempo para brincar com a criança, dar atenção, educar e, principalmente, impor limites. Isso traz sérias repercussões sobre a saúde física e emocional das crianças que, frequentemente, acabam sendo cuidadas por outras pessoas que não os familiares mais próximos. É o que chamamos de criança terceirizada.

Embora a sociedade atual, muitas vezes, nem se dê conta da importância disso, há evidências muito claras de que a falta de afeto, de carinho e de vínculo acaba sendo a causa de distúrbios de comportamento, repercutindo, inclusive, na violência urbana.

Na primeira fase da vida, a relação mãe-filho é fundamental. Pode-se dizer que nos primeiros 6 meses de vida, o bebê é ele e sua mãe. Winnicott, um importante psicanalista dedicado ao estudo da relação mãe-bebê, já dizia há décadas, que o bebê não existe sozinho e só descobre que é um ser independente, diferente da mãe que o amamenta, por volta dos 7 ou 8 meses de vida. Também, segundo a teoria de Winnicott, é provável que a capacidade de alguém encontrar felicidade e de encarar a vida com otimismo dependa de um tempo e de uma pessoa: o tempo é o primeiro ano de vida; a pessoa é a mãe. Por isso a luta para estimular a amamentação e aumentar a licença maternidade.

Você com certeza já ouviu que “o que interessa é a qualidade e não a quantidade”. Mas mesmo com qualidade, é preciso um tempo mínimo de afeto e de atenção. Para driblar a escassez de tempo para conviver com o filho, é preciso priorizar as ações de atenção com a criança. Conversar com ela, almoçar junto, telefonar do trabalho, ir à escola, fazer as lições junto com ela e principalmente brincar. Não substituir a praça, a praia, o jogo de bola, o brinquedo no quintal por um passeio ao shopping ou ao supermercado, que decididamente não são os locais adequados para uma criança passear com a família.

Quando seu filho adoece, é preciso acompanhá-lo ao médico, dedicar-lhe atenção, pedindo a devida licença em seu trabalho. Tudo isso é fundamental para que a criança se sinta respeitada e amada, e possa ser educada e colocada com segurança em um mundo competitivo e difícil como o que vivemos.

Problemas como alcoolismo (há crianças começando a beber com 12 anos de idade e, na maioria das vezes, na própria casa), o tabagismo, as drogas e a sexualização precoce são consequências funestas da falta de presença, de apoio e atitude por parte dos pais.

Quando a criança é colocada sob os cuidados de uma babá, ela e a criança desenvolvem um vínculo de afeto. Um erro muito grande das mães é demitir esta babá por ciúmes, e reiniciar o ciclo com uma nova pessoa.

 

A nova composição familiar pode alterar o desenvolvimento e o cuidado dos filhos?

 

A família de hoje está em franca modificação. Os cuidadores da criança de hoje são bem diferentes dos que víamos alguns anos ou décadas atrás. O mais importante a avaliar é se as crianças percebem quem são os seus verdadeiros cuidadores.

Temos visto crianças com pais e mães separados que vão ao consultório às vezes com o pai e a madrasta, outras vezes com o padrasto e a mãe. Outra particularidade são os casais homossexuais que adotam crianças. Há perguntas frequentes sobre como será a identificação das crianças com esses pais e se isso seria algo preocupante. Apesar do pouco tempo de experiência significativa com esse tipo de situação, pode-se dizer que se existe amor, respeito, cuidado e não há violência nem abandono, a criança poderá se desenvolver em sua plenitude.

O mais importante é que os cuidadores, sejam quais forem, devem amar, respeitar e cuidar da criança. A presença nos primeiros seis anos de vida da criança é fundamental.

 

Fonte: Academia Brasileira de Pediatria