Quando a criança cresce e passa a se expressar melhor, falando o que sente, muitos pais acreditam que não seja mais necessário levá-la às consultas de rotina, e passam a recorrer ao médico apenas quando há alguma doença ou queixa.

Esta atitude, associada às dificuldades de horário e correria da vida moderna, faz com que muitas vezes a criança acabe em clínicas de pronto atendimento, perdendo o vínculo com o seu pediatra. Ao adotarem esta prática, os pais acabam retirando de seus filhos oportunidades preciosas para a avaliação global da criança e a adoção de medidas de promoção da saúde, que terão impacto por toda a sua vida.

Em situações de doença, a criança deve ser levada ao seu pediatra. Além de tratar a queixa que motivou a consulta, o pediatra poderá aproveitar esta oportunidade para avaliar seu crescimento, seu desenvolvimento neuropsicomotor e puberal, orientar sobre a vacinação, alimentação, vida escolar, prática de esportes, comportamento e, algumas vezes, diagnosticar doenças ainda não percebidas pelos pais.

As consultas periódicas permitem a supervisão da saúde durante toda a infância e adolescência, independente da presença de uma doença ou queixa específica. Na faixa etária escolar (seis a 10 anos incompletos), a Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda pelo menos uma consulta com o pediatra por ano. Esta consulta da criança saudável, também chamada de puericultura, visa a acompanhar o desenvolvimento físico e psíquico e a promover a saúde através da realização de diagnósticos precoces e aconselhamento aos pais para a prevenção de acidentes e de problemas de saúde futuros.

Na idade escolar, a criança gradativamente se separa dos pais e busca aceitação de professores e outros adultos, bem como de colegas. Neste momento, sua autoestima se torna uma questão central a ser avaliada e trabalhada pelos familiares e profissionais. Esse é um período em que a criança sofre pressões para se enquadrar em estilos e ideais do grupo ao qual pertence. Crianças física ou intelectualmente “diferentes” sofrem risco de isolamento social e depressão.

Nessa idade, as crianças estão estabelecendo padrões de comportamento que podem durar por toda a vida. Por isso, é importante que o pediatra, durante a consulta, colha informações sobre a rotina e hábitos da criança e da família, sobre seu relacionamento na escola e com amigos e que aconselhe sobre práticas e estilos de vida saudáveis.


Alguns tópicos fundamentais a serem avaliados na consulta do escolar:

 

Na história da criança


  1. Avaliar as questões e preocupações trazidas pelos pais e pela criança.
    2. Rever a história médica anterior da criança: doenças prévias, cirurgias, uso de medicações, alergias, etc.
    3. Rever a história de doenças na família.
    4. Avaliar o desenvolvimento da criança no que diz respeito à aquisição de aptidões próprias da idade e desempenho escolar (rendimento, dificuldades, frequência).
    5. A história social é particularmente importante neste grupo etário. Devem ser avaliados:
  • condições de vida, hábitos e dieta em casa e na escola;
    • cuidados dentários;
    • atividades de lazer, atividade física diária, tempo de sedentarismo em frente a telas (televisão, computador, videogames);
    • padrão e número de horas de sono por noite;
    • processo de socialização tanto no meio familiar quanto na vizinhança e na escola (seu relacionamento com colegas e professores);
    • ocorrência de violência doméstica questionando sobre práticas punitivas, hábitos da família e dinâmica familiar;
    • ocorrência de bullying no ambiente escolar;
    • medidas de segurança e proteção de acidentes, tais como: uso do cinto de segurança e de equipamentos de proteção para esportes.

 

 No exame físico


Um exame físico completo deverá ser realizado em todas as consultas de supervisão de saúde, mesmo nas crianças sem queixas. Deve ser dada ênfase especial para os procedimentos abaixo.

Sinais vitais: temperatura axilar, frequência cardíaca e respiratória, pressão arterial.
Presença de hipertensão arterial, que deve ser aferida anualmente a partir dos três anos de idade, ou antes, caso haja fator de risco.

Medidas antropométricas básicas: peso, altura e cálculo do IMC.
Avaliar a presença de sobrepeso, obesidade, desnutrição e anemia.
Exame da coluna vertebral (escoliose, lordose, cifose).
Aumento do volume de gânglios linfáticos.
Desenvolvimento puberal.
Avaliar a acuidade visual e auditiva.
Avaliar a glicemia de jejum em crianças com mais de 10 anos quando apresentarem sobrepeso ou obesidade e mais dois outros fatores de risco, tais como: história familiar de diabetes mellitus tipo dois em irmãos, pais, avós ou tios, ou sinais de resistência insulínica e/ou condições associadas.
Avaliar a presença de dislipidemia (aumento do colesterol e triglicerídeos).

 

 

Orientações que o pediatra poderá dar aos pais

  • Aconselhar quanto à higiene bucal e encaminhar para consulta odontológica para tratamento ou realização de práticas preventivas.
    • Aconselhar quanto à higiene corporal.
    • Estimular atividades de lazer na vida da criança e reforçar a necessidade de participação ativa dos pais nesses momentos.
    • Desaconselhar o excesso de atividades sedentárias (televisão, jogos eletrônicos, computador, etc.). O tempo diante destas telas deve ser limitado a não mais que uma ou duas horas por dia. A qualidade dos programas também deve ser supervisionada.
    • Estimular a prática esportiva regular, evitando atividades de muito estresse competitivo ou de alto impacto físico. A criança deve estar envolvida em no mínimo uma hora de atividade física moderada a vigorosa por dia.
    • Orientar sobre vacinas: indicar as vacinas recomendadas para esta faixa etária e também atualizar as vacinas que eventualmente tenham sido esquecidas e estejam atrasadas.
    • Orientar quanto à prevenção de acidentes: ensinar regras de trânsito, comportamento como pedestre; orientar quanto aos cuidados em piscina e mar; orientar as atividades lúdicas na rua (jogar bola, soltar pipa, andar de bicicleta, dentre outras) e lembrar que os acidentes estão entre as principais causas de mortalidade nesta faixa etária.
    • Auxiliar os pais para que façam escolhas de alimentação saudável, evitando o excesso de sal, açúcar, carboidratos, colesterol e gorduras trans e hidrogenadas. Esclarecer sobre os benefícios da alimentação natural, evitando o excesso de fast food, os alimentos industrializados e refrigerantes. A criança e toda a família devem ser orientadas a ingerir uma dieta rica em frutas, verduras, legumes, alimentos integrais, feijão, peixe, carnes magras. Essas mesmas orientações são importantes em relação à merenda escolar.
    • Orientar quanto à importância da rotina do sono. A maioria das crianças em idade escolar necessita de 11 horas de sono por dia. A diminuição de horas de sono está associada com problemas de comportamento, diminuição de concentração na escola e obesidade. Avaliar o padrão da respiração durante o sono.

 

Fonte:Departamento de Pediatria Ambulatorial da SBP